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Brazil - Uribe: Brasil tem "espírito imperial"

Natalia Viana, 17 de fevereiro de 2011, 10 GMT

Em 15 de dezembro de 2004, entre as 17h30 e 18h, o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, participou de uma reunião de alto nível no palácio presidencial com o então subsecretário-adjunto do Departamento de Estado dos Estados Unidos para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Charles Shapiro, o subsecretário-adjunto para o combate às drogas Jonathan Farrar e o embaixador norte-americano em Bogotá, William B. Wood, além do diretor de temas andinos, David Henifin.

O fato é relatado num dos documentos obtidos pelo Wikileaks aos quais esta repórter teve acesso. São despachos da diplomacia americana que tratam das relações entre o Brasil e outros países sul-americanos. Em vários destes documentos, o resistência de alguns países sul-americanos em relação à influência brasileira é evidente, embora também haja que a veja com bons olhos e como contraponto aos EUA.

Na época da reunião, Uribe estava havia dois anos no cargo e levava a cabo a política que chamou de “segurança democrática”, para combater os grupos armados que atuam no país. A política, abertamente apoiada pelos Estados Unidos, fortaleceu o Exército do país e liberou estradas colombianas antes controladas pelas guerrilhas, empurrando os combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) para as montanhas.

O principal tema da reunião foi a ajuda americana na luta contra as FARC. Uribe afirmou, na reunião, que os grupos armados não poderiam resistir mais que cinco anos à pressão militar. O presidente colombiano também se queixou de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. A certa altura a conversa chegou ao Brasil.

“Uribe disse que a sue relação com [o então presidente] Lula é complicada pelos esforços de Lula em construir uma aliança anti-Estados Unidos na América Latina”, relata o telegrama. Em seguida, Uribe afirma que o Brasil teria pretensões imperialistas: “Lula é mais prático e inteligente que Chávez, mas é levado pelo seu background de esquerda e o ‘espírito imperial’ brasileiro a se opor aos EUA”.

O presidente colombiano disse ter pouca influência sobre Lula ou Chávez porque eles o veriam como um amigo dos EUA. Mesmo assim, afirmou que continuaria a pressionar Chávez a tomar ações contra narcotraficantes. Afirmou ainda que Lula não cumpriu suas promessas de lutar contra o narcotráfico.

Conselho de Defesa Sul-Americano

Essa não foi a única vez que o alto escalão do governo colombiano reclamou do Brasil aos diplomatas americanos. Outro telegrama, datado de 9 de maio de 2008, revela a desconfiança do ex-ministro da defesa colombiano, Juan Manuel Santos (presidente da Colômbia desde junho de 2010) em relação à proposta de criação do Conselho de Defesa Sulamericano (CDS), defendida pelo Brasil.

Durante a conversa, que aconteceu em 30 de abril do mesmo ano, o embaixador norte-americano chegou a sugerir formas de flexibilizar o mandato do Conselho.

Dois dias antes da reunião na embaixada Juan Manuel Santos tivera um encontro com o ministro de defesa brasileiro, Nelson Jobim, em que discutiu a proposta encabeçada pelo Brasil sobre a criação do Conselho.

Jobim viajara a diversos países sul-americanos para apresentar a proposta. No caso da Colômbia, a reunião aconteceu em Bogotá. Ao embaixador, Santos disse que rejeitou proposta, expressando preocupação de que a iniciativa poderia duplicar as funções da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da ONU (Organização das Nações Unidas).

“Santos explicou para Jobim que o governo colombiano temia que a iniciativa soasse demasiadamente como uma ideia da Venezuela”, diz o telegrama. “O governo colombiano não quer suas forças armadas subjugadas a uma instituição que não compreende totalmente. Do mesmo modo, está relutante a ingressar em uma instituição que poderia ser percebida por muitos como um esforço para distanciar a América do Sul do governo americano”.

A resposta de Jobim, segundo o documento, foi dura: a Colômbia ficaria completamente isolada se não entrasse na iniciativa – e o Brasil prosseguiria com ou sem ela.

No dia 1º de maio, foi a vez do ex-comandante do exército General Mario Montoya conversar com a representação americana. Ele disse que os militares colombianos não queriam “ser isolados” do resto da América do Sul, embora o “timing” da proposta fosse particularmente “infeliz” por causa do atraso na aprovação do tratado de livre comércio com os EUA.

O embaixador avisou que repassaria informações sobre a iniciativa a Washington. “Ele concordou que o governo colombiano deveria explorar se outros governos regionais tinham receios e, se fosse o caso, ver se eles se aliariam ao governo colombiano”.

O embaixador propôs que o governo explorasse se poderia sugerir opções que iriam ajustar o “timing” e o nível de participação. “Por exemplo, quem sabe um governo poderia se unir sem ter que aceitar todos os níveis de participação”. O telegrama é assinado pelo embaixador William R. Brownfield.

O Conselho de Defesa Sul-Americano acabou sendo aprovado, afinal, na cúpula extraordinária da União de Nações Sul-Americanas em 15 de dezembro de 2008.